IALOCENO, um novo olhar sobre o nosso tempo | GEN #01


GENEALOGIA DO IALOCENO

Esse laboratório tem como principal objetivo elaborar conceitualmente o Ialoceno como uma ferramenta de análise que funcione como uma lente de aumento para examinar o impacto das inteligências artificiais na existência humana. A defesa do conceito abordará sua origem etimológica, seu método investigativo e suas abordagens.

A semelhança etimológica entre o Ialoceno e o Antropoceno não é casual, uma vez que o primeiro se propõe a ser uma ferramenta analítica que se relaciona germinalmente ao segundo, ainda que não proponha uma separação, tão pouco uma superação dele. O Ialoceno se caracteriza como um fenômeno dentro do Antropoceno mas distinto por se dedicar a analisar um recorte fenomenológico específico. O desenvolvimento conceitual do Antropoceno por Paul Crutzen remete a uma investigação profunda, que buscava uma ferramenta capaz de englobar todos os impactos do humano na terra dentro de uma única ótica, evidenciando nossa capacidade de transformar drasticamente o planeta. Essa característica universalizante da análise também é presente no Ialoceno que busca fornecer uma ferramenta capaz de englobar todas as dimensões da existência humana que foram ou serão, de alguma maneira, transformadas pelas inteligências artificiais, ainda que não seja possível analisarmos todas elas. 

Para isso, as inteligências artificiais são interpretadas pela terceira fonte de incerteza: as coisas também agem da Teoria Ator-Rede (TAR) de Bruno Latour, caracterizando-as como agentes subjetivos na existência humana, com capacidade de transformar as ações e interações sociais, reconfigurando fundamentalmente a própria textura do que entendemos por coletivo e por agência humana.

O Ialoceno como conceito se utiliza de uma abordagem investigativa Fenomenológica, Hermenêutica e Dialética. 

Fenomenológica segundo Edmund Husserl, pois busca compreender a realidade por meio dos seus fenômenos. Em outras palavras, o Ialoceno analisa os fenômenos da existência humana, tais como a linguagem, o amor, a territorialidade e os interpreta como estruturas de experiência, segundo a forma como se apresentam à nossa consciência.

Hermenêutica segundo Hans-Georg Gadamer, pois, a partir dessa descrição, interpreta o significado dessas estruturas. Entretanto, não se limitando a apenas uma corrente interpretativa, expandindo o escopo para análises do mesmo fenômeno sob a ótica de diversas linhas de pensamento. Os distintos horizontes de reflexão buscam enriquecer, e não esgotar, a compreensão do tema, assumindo com isso que esse saber reflete um conhecimento provisório e histórico.

Dialética, por fim, segundo Carlos Cirne Lima uma vez que o diálogo entre filosofias opostas é o meio pelo qual essas correntes oferecem contribuições à discussão e possibilitam uma síntese, transformando a forma como cada uma delas é interpretada e, portanto, compreendida.

Foucault afirmou certa vez que o papel do filósofo não é abrir portas, mas criar ferramentas para que as pessoas possam abrir as portas. O Ialoceno não busca responder de forma objetiva aos problemas identificados pelos métodos, nem classificar as contribuições de autores como superiores ou inferiores para a análise desse fenômeno. O objetivo se encontra na construção de novas formas de pensar acerca do problema, desenvolvendo, então, ferramentas potentes no processo de enfrentamento dos novos desafios emergentes no contexto do Ialoceno.

O conceito busca desenvolver em um futuro breve, então, a construção de uma teoria que possibilite uma compreensão mais aprofundada desse novo tempo surgido pelo desenvolvimento técnico-científico humano. Nesse novo momento histórico encontra-se, também, um novo humano, que não se manifesta pela tecnologia em si, mas na forma como se relaciona com ela, ou seja, pela forma como é impactado pelas inteligências artificiais.