Ao que serve o Ialoceno | GEN #04


Nosso caminho até aqui evidencia nossa própria abordagem, bem como fortalece nosso ponto, demonstrando a relevância do tema pela forma multifacetada pela qual as inteligências artificiais existem e se manifestam na realidade.

Realizamos nossos esforços intelectuais por meio de duas formas de construir ideias, a saber: o Ensaio e a Genealogia. Este primeiro utiliza-se de uma abordagem Fenomenológica-Hermenêutica e Dialética. A explicação de cada metodologia já foi feita na Genealogia #1, mas vamos relembrar.

Fenomenológica segundo Edmund Husserl, pois busca compreender a realidade por meio dos seus fenômenos. Em outras palavras, o Ialoceno analisa os fenômenos da existência humana, tais como a linguagem, o amor, a territorialidade e os interpreta como estruturas de experiência, segundo a forma como se apresentam à nossa consciência.

Hermenêutica segundo Hans-Georg Gadamer, pois, a partir dessa descrição, interpreta o significado dessas estruturas. Entretanto, não se limitando a apenas uma corrente interpretativa, expandindo o escopo para análises do mesmo fenômeno sob a ótica de diversas linhas de pensamento. Os distintos horizontes de reflexão buscam enriquecer, e não esgotar, a compreensão do tema, assumindo com isso que esse saber reflete um conhecimento provisório e histórico.

Dialética, por fim, segundo Carlos Cirne Lima uma vez que o diálogo entre filosofias opostas é o meio pelo qual essas correntes oferecem contribuições à discussão e possibilitam uma síntese, transformando a forma como cada uma delas é interpretada e, portanto, compreendida.

Busquemos, então, um exemplo de nossa abordagem que esclareça esse método. A linguagem foi abordada em certo ponto das nossas análises. A compreensão dela como fenômeno se deu na forma como a compreendemos na sua própria forma de manifestação. Buscamos diversas filosofias que a interpretem, na tentativa de enriquecer as possibilidades de ser da linguagem e, por meio delas, buscamos demonstrar por meio do confronto das abordagens filosóficas, que, independentemente da linha de pensamento escolhida, as inteligências artificiais são tão influentes a ponto de impactar criticamente a linguagem. Evidencia-se, aqui, as três principais facetas do método filosófico utilizado para os ensaios: Fenomenológico-Hermenêutico e Dialético.

O segundo método, a Genealogia, por sua vez, pode ser chamada também de Análise por Lentes Filosóficas e tem outro objetivo: buscamos explorar conceitos que auxiliem na construção de ferramentas de análise dos desafios emergentes próprios do Ialoceno. Colocando de outra forma, são nesses ensaios que nos utilizamos de uma perspectiva específica, como a IA caracterizada como constituinte do Ser do humano, ou um sistema conceitual robusto e bem-estabelecido, como a filosofia da alteridade de Emmanuel Levinas, como uma lente de aumento para examinar este fenômeno complexo de um novo momento da história humana. 

Entretanto, não buscamos responder de forma objetiva aos problemas apontados nem classificar as contribuições de autores como superiores ou inferiores para nossos esforços. Nosso objetivo se encontra na construção de novas formas de pensar acerca de problemas, desenvolvendo, então, ferramentas potentes no processo de enfrentamento dos novos desafios emergentes no contexto do Ialoceno. 

Como exemplo desse método, podemos relembrar o ensaio ALTERIDADE NO IALOCENO. Nesse ensaio, buscamos compreender os conceitos de alteridades, ética como filosofia primeira e a centralidade do rosto na alteridade segundo as ideias de Emmanuel Levinas, em seguida, aplicamos essa ótica filosófica para examinar a condição peculiar das inteligências artificiais em sua ausência corpórea e identitária, que as priva de um "rosto" capaz de interpelar eticamente, por fim, exploramos as consequências das lacunas representacionais, como a atrofia do desenvolvimento ético quando a relação deixa de ser mediada por rostos humanos, evidenciando como a alteridade de Levinas fornece uma ferramenta crucial para compreender os novos desafios que afloram pelo fértil solo do Ialoceno.

Nossas reflexões culminarão, em um breve momento, na construção de uma teoria que possibilite uma compreensão mais aprofundada desse novo tempo surgido pelo desenvolvimento técnico-científico humano. Nesse novo momento histórico encontra-se, também, um novo humano, que não se manifesta pela tecnologia em si, mas na forma como se relaciona com ela, ou seja, pela forma como é impactado pelas inteligências artificiais.  

Entendemos então, finalmente, ao que serve o Ialoceno.